
legenda: anônimas e atrizes famosas ganham a mesma importância
Eduardo Coutinho mistura vida real e ficção
Jogo de cena brinca com o conceito de verdade
por Duda Martins
Falar de como Eduardo Coutinho tem me proporcionado momentos de prazer não vai ser tão difícil. Quem conhece o roteirista-diretor, sabe que ele é mestre em falar com propriedade sobre a nossa vida e a vida das pessoas que nos cercam. E faz isso sem querer, querendo. Na última semana assisti seu último filme, Moscou, na telona do aconchegante Cinema da Fundação. Para quem gosta de teatro, o filme é particularmente espetacular. A escolha do grupo mineiro Galpão, de talento indiscutível, revela, metalinguísticamente, as minúcias do teatro realista. Um teatro bem feito.
No entanto, caros amigos, não é sobre a sua última obra que vim contar. Indicado por uns e outros me propus a assistir o comentado Jogo de Cena, longa do mesmo autor, lançado em 2007. Se utilizando da mesma metalinguagem Coutinho prende a atenção não apenas daqueles apaixonados por teatro ou cinema. Para se emocionar com o documentário basta ter os pulmões cheios de ar - ou seja, estar vivo.
Assim como em Edifício Master (2002), o cineasta entra na nossa casa sem pedir licença e vasculha nossos sentimentos. Na tensão de não saber quem fala a verdade, quem é "atriz" e quem é "gente normal", em quem eu posso acreditar e, de repente, me entregar, me render, e me comover com aquela narrativa, chega a um ponto em que ninguém mais quer saber de desvendar o jogo. Marília Pêra me conta a mesma história que uma anônima e ambas mexem comigo da mesma forma. Nesse momento, desistir é ser corajoso. É olhar e perceber que tudo aquilo ali é a mais pura realidade, nua e crua. Interpretada ou não, com cristal chinês ou não. É verdade.

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